Templo de R'hllor

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Mensagem por Senhora das Lanças Sáb Jun 17, 2017 3:51 pm



Templo de R'hllor

O Templo de R'hllor é feito de pedras vermelhas. Tem uma grande torre quadrada com uma fogueira em um braseiro de ferro de seis metros de diâmetro localizada no topo da torre. Uma fogueira acompanha cada porta. É um dos maiores templos de Braavos, sendo construído pouco tempo depois da perdição de Valíria, quando a Cidade de Braavos se revelou ao mundo conhecido.
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Mensagem por Jessabelle de Ibben Sáb Jun 24, 2017 3:25 pm




Jessabelle  
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Uma brisa fria entrou sorrateiramente pela janela aberta, fazendo com que a chama da vela oscilasse. As sombras criadas pela luz se mexeram pelas paredes de todo o quarto, e em conjunto delas, Jessabelle se levantou da cadeira onde estava sentada e foi em direção à janela, fechando-a.


Voltou para sua cadeira em frente à escrivaninha, onde estavam repousados pergaminhos, livros e incontáveis páginas soltas. Empilhando todo o material em um único lado da mesa, Jessabelle escolheu aleatoriamente um livro de aparência velha e desgastada que havia ficado no topo da pilha. Sua capa era de uma cor escura, tendendo ao marrom e não havia título, mas a morena já sabia exatamente que encontraria ali.


Delicadamente, Jessabelle foi virando as páginas frágeis da obra. A tinta estava sutilmente apagada, o que a obrigou a forçar os olhos para ler seu conteúdo. O livro era um dos exemplares que um sacerdote mais velho deu para Jessabelle ler e afugentar sua fome de conhecimento em relação às religiões. A morena acreditava que, para ser uma boa sacerdotisa vermelha e trazer mais fiéis para a causa de seu deus, deveria primeiro entender as razões que levavam povos diferentes a crerem em deuses diferentes.


A pergunta que mais incomodava Jessabelle era a que questionava o fato de a Fé Vermelha ser tão pouco disseminada pelo continente de Westeros. Falta de conhecimento, talvez? Na visão da jovem, era realmente uma pena e um desperdício que os westerosi não conhecessem o seu Senhor da Luz, que traria força e poder para as nações que lhe servissem fielmente. Mas isso não deveria ser fonte de problemas ou inquietação, afinal, assim como outrora houveram sacerdotes vermelhos em Westeros pregando a palavra verdadeira, não havia empecilho impedindo que este mesmo episódio ocorresse novamente, nos dias atuais. E talvez, quem sabe, não será a própria Jessabelle a se aventurar pelo outro continente trazendo crentes para a Fé Vermelha?


Deixando os devaneios de lado, a jovem se pôs a estudar. O estudo religioso era algo no qual ela acreditava em demasia, pois muitas vezes o homem se torna aquilo no qual acredita. Controlar a natureza de alguém segundo a fé da pessoa era algo muito poderoso e valioso para ser descartado. Por essa razão, Jessabelle direcionou os olhos azulados para a tinta contida no fino papel e começou a ler.


"Boash" era o nome escrito no topo da página, o primeiro que havia chamado a atenção da jovem. Ela já ouvira sobre essa divindade, conhecida também como Deus Cego e que fora muito cultuada em Lorath e também pelo povo valiriano. Segundo os registros contidos no livro, aqueles que veneravam o Deus Cego não comiam carne, bebiam vinho e acreditavam que todas as criaturas do mundo eram dignas igualmente. Foi impossível para Jessabelle segurar a careta ao ler sobre os sacerdotes dessa religião: "seus sacerdotes são eunucos que usam capuzes sem olhos em honra do deus, pois só na escuridão seria permitindo-lhes ver as "verdades superiores" da criação que se ocultava por trás das ilusões do mundo material." Quando chegou na parte que descrevia a extrema abnegação que os boashinos tinham para consigo mesmos, Jessabelle decretou que, por ser uma crença praticamente extinta do mundo atual, não valia o tempo gasto para ser estudada.


Folheou as páginas até que o título do texto chegou em "Deus de Muitas Faces". Era uma divindade muito conhecida por parte de Jessabelle, já que um templo construído em homenagem ao deus se localizava em Braavos, e sua guilda de assassinos havia se originado ali. Jessabelle achava bizarro o modo como essas pessoas podiam crer que a morte era fim misericordioso para o sofrimento que a vida proporcionava. Pensou naqueles que se sentavam em tronos e possuíam bens valiosos, que custavam o triplo de seu peso em ouro. Para esses, certamente a morte não seria bem-vinda e muito menos vista como algo piedoso.


Cansada de refletir sobre as bobagens que terceiros tinham como verdades, Jessabelle fechou o livro e esfregou os olhos, vermelhos devido ao esforço de executar uma leitura com baixa luminosidade. Levantou-se e ajeitou a fina camisola que vestia, que era como uma cortina carmesim lhe cobrindo do peito aos pés. Os quartos de repouso destinados aos sacerdotes do templo vermelho eram aconchegantes para Jessabelle, que dormia em um desses desde que se conhecia por gente. Deitou-se na cama e se cobriu com uma manta fina, virando-se para encarar a vela que ardia sobre a mesa.


Jessabelle ainda estava acordada quando a chama chegou ao fim e se extinguiu, deixando a jovem imersa em pensamentos e escuridão.

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Mensagem por Amarantha Dom Jun 25, 2017 12:33 am

"Este foi um dia cansativo", pensava Amarantha, exausta, enquanto subia as escadas do templo. Ia para seus aposentos, com a intenção de ainda estudar venenos antes de deitar-se. Acabara de sair da celebração noturna a R'hllor — fora o de sempre: uma fogueira, orações, cânticos e apenas alguns poucos fiéis sábios presenciando o momento de grande importância, que traria, aliás, o amanhecer do dia seguinte. Aquilo, entretando, somado às várias voltas que dera na cidade em busca de ingredientes para venenos, e todo o tempo que passara de pé dialogando com um grupo de sacerdotes sobre visões nas chamas, a deixara bastante cansada e com uma certa dor nos calcanhares. Tudo que desejava naquele momento era deitar-se e dormir tanto quanto possível.

Passou pelos corredores iluminados por tochas no fim da escadaria em espiral e dirigiu-se a seu quarto, fechando a porta rangente a seguir. O cômodo era de tijolos vermelhos, como o resto do templo, e Amarantha o achava bastante aconchegante. Possuía uma cama de madeira envelhecida, com um colchão incrivelmente macio; uma cômoda na qual colocara seus itens pessoais, de higiene e de beleza; uma mesa dedicada ao seu estudo, com todos os seus seus livros e pertences relacionados à fé; e também uma espécie de baú, no qual guardara suas roupas — e também sua espada, com a qual ainda precisava arranjar tempo para treinar. Além disto, também haviam archotes nas paredes do quarto, os quais já ardiam em chamas quando chegara e aqueciam o aposento.

Primeiramente, retirou a capa rubra que estava sobre seus ombros, e, dobrando-a, depositou-a com cuidado na beira da cama, para guardar depois. Despiu também sua túnica escarlate mas parou a meio caminho de dobrá-la, pois percebeu que estava com cheiro de fumaça, por conta da fogueira acesa ao Deus da Chama e da Sombra — não que se importasse, pois aquilo era muito pouco perto da grandiosidade do Senhor da Luz. Jogou-a, então, no pequeno cesto de roupas sujas, e pegou um vestido de tecido leve, que usaria para dormir. Após vesti-lo, foi à cômoda e banhou as mãos na água fria da vasilha que estava sobre ela, lavando, em seguida, seu rosto, tanto porque queria manter-se acordada quanto por achar que poderia estar com resíduos de fuligem. Como tomara banho antes da celebração, achou que poderia passar a noite assim, e então tomaria novamente na manhã seguinte.

Secou a face com uma pequena toalha branca e parou em frente ao espelho apoiado na parede ao lado de sua cama, desfazendo com cuidado a trança não tão elaborada na qual seu cabelo estava preso. Observou, por fim, seu reflexo: seus olhos claros aparentavam uma certa exaustão, por conta das olheiras que começavam a surgir em sua pele, pouco abaixo dos mesmos. As madeixas, agora, emolduravam-lhe o rosto formando leves cachos, devido à trança recém-desfeita. Sua pele estava um pouco rosada por tê-la esfregado com as mãos ao lavá-la, mas nada tão grave. As suas vestes eram de um tom claro de bege e chegavam até pouco acima de seus joelhos — seria uma roupa de certa indecência se fosse usada perto de algum homem, porém não havia probabilidade alguma de alguém do sexo masculino bater à sua porta a uma hora daquelas. Não acreditava que havia necessidade de vestir roupas vermelhas até mesmo para dormir, entretanto cobriu-se com uma manta escarlate, já que seu vestido e as tochas não a aqueciam o suficiente.

Sentou-se, então, na cadeira em frente à mesa de estudos, que continha vários livros velhos, ingredientes para venenos, suas aranhas de "estimação" e pergaminhos de anotações. Estivera estudando ali na noite anterior, e tudo estava desarrumado do jeito que deixara, já que pegara no sono enquanto lia a respeito da fórmula de alguns venenos bastante fortes, tentando memorizá-las. Haviam dois livros abertos sobre a mesa; em um, via-se a gravura de uma caneca e um basilisco, e no outro lia-se "afoga a vítima em suas próprias toxinas, pois atrofia seu intestino e a bexiga, matando-a por volta de três dias após a ingestão". Tratavam-se, respectivamente, de Veneno de Basilisco e Sangue de Viúva. Não era, porém, nenhum dos dois venenos que Amarantha iria fabricar ou estudar naquele dia, de modo que fechou-os e os pôs de lado. Suas capas eram, ambas, de cor vermelho-escura, e não possuíam um título nas mesmas.

Pegou em uma pequena vasilha branca o que comprara mais cedo, andando pela cidade: frutos de Dormínea, colhidos ainda naquele mesmo dia. Eles tinham uma aparência um tanto quanto apetitosa, com uma textura macia e uma coloração rosada bem característica; uma mordida neles, porém, poderia levar a um sono sem fim, também conhecido simplesmente como morte. Seriam utilizados para produzir um famoso e comum veneno que causa grande sonolência e uma noite sem sonhos: o Sono Doce.

Amarantha já havia decorado a lista dos ingredientes — que era, na verdade, apenas um neste caso — e as instruções de preparo da fórmula, já que a repetira incontáveis vezes durante seus anos como sacerdotisa; era um dos venenos mais simples de serem produzidos, e fora um dos primeiros que aprendera a criar. Ela, porém, queria ter total certeza do que fazia, e por isso pegou seu exemplar do Livro de Venenos Comuns, que havia comprado de um mercador qualquer há alguns anos por uma pechincha, e o folheou até encontrar aquilo que precisava. Na página envelhecida e amarelada, lia-se:

"O Sono Doce é preparado de modo simples, mas é necessária experiência para que seja realmente bem eficaz. Deve-se apenas coletar os grãos de tom perolado presentes em certos frutos da Dormínea, que possuem propriedades relaxantes. De tais grãos, deve se fazer um pó, que deve ser ingerido e possui efeito rápido, porém é necessário cuidado, já que em demasia é fatal."

Bastou uma rápida olhadela no livro para que começasse, já que a morena praticamente memorizara o que estava escrito, e recitava o preparo baixinho para si mesma enquanto cortava ao meio os frutos com cuidado e habilidade. Enquanto a seiva contida neles escorria por entre seus dedos diretamente para a vasilha abaixo, Amarantha pegou os pequenos grãos, que pareciam pérolas, e os colocou dentro de uma caneca. Após terminar a coleta de todos os frutos, começou a triturar os grânulos dentro do recipiente em que estavam, formando um pó esbranquiçado — era o veneno, pronto para ser usado.

Não rendia muita coisa: comprara oito frutos, dos quais um não tinha os grãos em seu interior. Os outros sete produziram apenas meia caneca de pó de Sono Doce, mas a morena não precisava de muito; com apenas três pitadas, poderia causar a alguém uma morte sem dor. Não estava, entretanto, pensando em homicídio. Amarantha apenas era acostumada a beber vez ou outra água com um pouquinho do veneno, pois, além de ter uma boa noite de sono garantida, também acreditava que o próprio corpo se acostumaria com a fórmula, e logo o Sono Doce não surtiria mais efeito nela. Deste modo, achava que não poderia ser envenenada com isto — pelo menos não com somente três pitadas.

Passou, após triturar os grãos, mais algum tempo estudando sobre outros venenos. Leu sobre os comuns e os incomuns, além de seu modo de preparo, seus ingredientes e as propriedades de cada um deles. Decorreu-se por volta de uma hora até que decidisse dormir, e, quando o fez, pôde ver pela janela que a lua já estava no meio do céu. Fechou seus livros desgastados pelo uso e organizou os itens na mesa, de modo que não a encontrasse tão desarrumada na próxima noite de estudos. Lembrou-se de alimentar suas aranhas antes de dormir: pegou uma vasilha contendo dezenas de moscas mortas, e jogou algumas dentro dos potes em que ficavam os aracnídeos. Observou por um instante eles pegarem os insetos; talvez fosse um pouco repulsivo, mas era assim que a sacerdotisa conseguia que eles produzissem o seu veneno.

Pegou, então, uma outra caneca nas suas coisas e a encheu com água de uma jarra que estava sobre sua cômoda, e que havia sido trazida durante a celebração a seu pedido. Cuidadosamente, pegou com seus dedos uma pitada do Sono Doce e adicionou-a à caneca de água em suas mãos, como fazia uma ou duas vezes todas as semanas — não poderia fazer todos os dias, já que poderia ter problemas devido à grande quantidade de veneno que teria no organismo. O líquido tinha uma coloração esbranquiçada, como um leite aguado; ela sabia, também, que o gosto adocicado não era ruim. Bebeu então todo o conteúdo; se não pudesse confiar em seus dedos e na quantidade de Sono Doce que colocaram, como poderia fazer outra pessoa tomar daquilo que fabricara? Esta era uma pergunta que não poderia responder.

Por fim, deixou a caneca sobre a mesa e agradeceu a R'hllor pelo dia, além de lhe pedir uma última vez para que trouxesse, novamente, o amanhecer no dia de amanhã. Apagou as duas últimas tochas que ainda estavam ardendo, de modo que o quarto, antes iluminado, tornou-se quase completamente escuro, com apenas a luz da lua a banhá-lo. Despiu a manta que lhe aquecia e deitou-se na cama, já sentindo as pálpebras pesarem de exaustão. Cobriu-se, então, com um tecido mais quente e fechou os olhos, deixando o veneno guiá-la para outra dimensão e torcendo para acordar novamente na manhã seguinte.
treino 01 - uso de venenos
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Mensagem por Jessabelle de Ibben Qua Jun 28, 2017 10:17 am




Jessabelle  
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INTERAÇÃO FLASHBACK - DOZE ANOS ATRÁS
A garotinha tamborilava os dedos ansiosamente por sobre a superfície lisa de madeira da mesa. Havia acabado de testemunhar um dos cultos a R'hllor, que se resumia na queima de uma enorme fogueira e no entoar de cânticos religiosos, muitos dos quais ela já sabia de cor. O cheiro da fumaça e a cor da fuligem marcavam suas roupas e corpo até poucos minutos atrás, antes de ter se despido e tomado um pequeno banho com água morna, trazida por uma das sacerdotisas mais velhas que cuidavam da menina.


Jessabelle trajava uma camisola de seda vermelha muito confortável e que lhe cabia perfeitamente, apesar de não ter sido tecida especificamente para ela. O quarto em que estava possuía archotes ardendo com chamas que a garota havia aprendido a não temer; uma cama com um colchão recheado de palha; uma pequena mesa para estudos e a cadeira de madeira rústica na qual estava sentada. Era um ambiente deveras assustador para uma criança, considerando as sombras negras que contrastavam com o vermelho das paredes do cômodo - Jessabelle, entretanto, se sentia estranhamente confortável no aposento.


Já passava do horário que a menina diariamente dormia, mas naquela noite ela não conseguia pregar os olhos por sequer um instante. Mais agitada do que normalmente era, Jessabelle já havia experimentado todas as posições para pegar no sono e, tendo falhado na missão, também já havia vasculhado o quarto inteiro à procura de passatempos. Estava entediada e, como qualquer criança neste estado de espírito, curiosa para fazer aquilo em que lhe era imposto a proibição.


"Não saia do quarto após o horário de dormir", era o que sempre lhe diziam. Jessabelle estava quase, literalmente, se coçando de curiosidade para saber o que acontecia pelo templo de R'hllor quando todos se trancavam nos quartos - apesar de ter ouvido muitas vezes que o motivo da regra era o de que simplesmente ninguém queria ter de tomar conta de crianças durante a noite. Mas como saber se isso não era apenas uma desculpa para coisas mais interessantes que ocorriam no escuro? Refletindo sobre o assunto, a menina pulou da cadeira e, com um suspiro, tomou a coragem a necessária para destrancar a porta e a abrir, o mais lenta e silenciosamente que conseguiu.


Não havia ninguém no corredor, como o esperado, mas as chamas continuavam queimando em cada tocha pregada nas paredes. Apesar de permanecerem acesas durante dias e noites, Jessabelle nunca viu a madeira ser queimada completamente e acabar - pelo contrário, as tochas pareciam estar sempre exatamente iguais. Provavelmente, alguém trocava a lenha durante a noite ou pela madrugada.


Com um passo de cada vez, Jessabelle pôs o corpo para fora do quarto e recostou a porta no batente, que incrivelmente não emitiu rangidos. Descalça, seus pés eram cautelosos ao se movimentarem, enquanto os olhos profundamente azuis da garota vasculhavam o ambiente silencioso à procura de algo inusitado. Como nada encontrou ali, a menina foi em direção às escadas, subindo para a torre quadrada que guardava o braseiro de ferro que produzia as grandes fogueiras pelas quais o templo era tão famoso em Braavos.


O som de passos vagarosos se arrastando pelo chão fez com que o coração de Jessabelle desse um pulo e o sangue em seu corpo gelasse. Vozes austeras conversavam em idioma complicado e excêntrico, uma língua na qual a garota não conhecia. Ela reconheceu, entretanto, os donos dos timbres como sendo dois antigos sacerdotes do templo.


Jessabelle olhou ao seu redor. Poderia ir em frente e continuar subindo as escadas ou voltar pelo corredor por onde viera e se encontrar com os homens. Como as tochas estavam presentes por toda a extensão interna do templo, não havia a possibilidade de esconder nas sombras, pois essas eram escassas demais para servir ao propósito. A garotinha, olhando para a única porta de madeira presente no corredor, decidiu arriscar e tentar a sorte. Girou a maçaneta e a forçou o mais silenciosamente que conseguiu e, para sua tremenda surpresa e alívio, a porta se abriu com um pequeno grunhido de protesto.


Jessabelle entrou em um quarto semelhante ao seu, pela pontinha dos pés descalços, encostando a porta atrás de si e se virando para encarar o habitante do cômodo. Por sorte, era uma velha senhora que dormia profundamente, os roncos baixos acompanhando cada inspiração. O crepitar suave do fogo que ardia no archote do quarto era tranquilizador, até mesmo para Jessabelle naquela situação.


Ouviu quando a intensidade e volume das vozes passaram pela porta em direção às escadas que subiam pelo templo. Curiosa e intrigada, a pequena garota fechou um dos olhos e tascou o outro, arregalado, pela fresta da porta, observando os sacerdotes passarem pelo corredor sem notarem o brilho azulado do olhar que seguia seus movimentos.


Por um instante, Jessabelle ficou tentada a segui-los e ver o que planejavam fazer. Foi dissuadida da ideia quando percebeu que não estava sozinha no quarto. Os roncos pararam e deram lugar a tosses secas, fazendo com que a senhora se remexesse na cama. Jessabelle, que permanecia com as costas na porta e o rosto assustado olhando a cena, se abaixou e, rapidamente, engatinhou até o pé da cama. Conseguia ouvir a mulher se mexer e pegar algo repousado por sobre a mesa de madeira. Imóvel, a garotinha se encolheu o máximo que conseguiu, querendo que a parede atrás de si a absorvesse. Pelo seu pequeno tamanho e peso, não foi difícil se esconder naquele cantinho. Ela prendeu a respiração até o momento em que a senhora voltou para o que parecia ser um sono profundo, e os roncos recomeçaram a preencher o ambiente.


Após minutos que se pareceram com horas terem se passado, Jessabelle tomou coragem para sair dali. Seus músculos protestavam com os movimentos, visto a posição desconfortável em que a garota os submetera. Engatinhando novamente até a porta, a menina olhou pela fresta para ver se alguém estava à espreita pelos corredores, assim como ela. Como nada viu, abriu a porta o suficiente para que pudesse se espremer pela passagem e disparou pelo caminho até seu quarto, nem se dando o trabalho de olhar para trás. A única coisa em que pensava era que, se fosse pega, provavelmente seria ela a queimar na próxima fogueira que os sacerdotes fariam.


Chegou ao quarto ofegante e ainda mais agitada do que quando saiu. Trancou a porta e limpou os pés antes de se deitar, pensando que, da próxima vez, seria melhor pedir um livro para se entreter à noite.

Treino: Furtividade





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Mensagem por Jessabelle de Ibben Qua Jul 19, 2017 7:34 pm




Jessabelle  
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INTERAÇÃO FLASHBACK - QUINZE ANOS ATRÁS
— Que é "deus"? — As pernas da garotinha iam sutilmente para frente e para trás na beirada da cama, semelhante ao balançar que uma mãe fazia para ninar seu bebê. Jessabelle tinha acabado de completar os quatro anos de idade e ainda estava desenvolvendo a habilidade da fala, acrescentando palavras novas em seu vocabulário todos os dias.  

— "Deus" é a divindade dos homens. É um ser superior a todos nós em intelecto e espírito. — Vyrion era o alto-sacerdote que estava presente agora no templo. Era um homem alto e possuía uma vasta cabeleira negra tanto na cabeça quanto na barba, apesar de alguns fios prateados estarem começando a despontar em ambos os lugares. O sacerdote era nascido e crescido nos arredores de Porto Roxo, ali mesmo em Braavos, filho de pais mercadores ricos da cidade. — Todos os povos inventam e criam histórias com deuses falsos para cultuar. Mas existem apenas dois verdadeiros, Jessabelle. Quais são?

— R'hllor, o Senhor da Luix e Coração de Fogo. O outro é o Deus cujo nome não deve ser pronuciado, o deus da morte e do gelo. — A garota proferiu as palavras de modo automático, apenas repetindo aquilo que lhe fora ensinado desde que chegara ao templo vermelho. Jessabelle foi enviada pelos pais antes de ter completado os três anos de idade; seu pai, um pescador de Ibben, navegara com a filha para longe de casa, a fim de entregá-la nas mãos dos sacerdotes e doá-la para que seu deus fizesse da garota sua serva.

— Muito bem. Agora me diga, você sabe por que as pessoas insistem em acreditar em deuses de mentira? — Vyrion havia se sentado na única cadeira de madeira do cômodo. Era um aposento pequeno, com espaço apenas para uma cama, uma mesa e sua cadeira. Os estalidos de fogo crepitando nos archotes espalhados pelas paredes era o único barulho que se ouvia, além de alguns gritos ocasionais de pedestres da rua, no lado exterior do templo.

Jessabelle negou com a cabeça, piscando e encarando o alto-sacerdote com os olhos profundamente azuis, cheios de interesse. — Que é "insitem"?

Vyrion balançou negativamente a cabeça, copiando o gesto da criança. O homem apoiou os cotovelos nos joelhos, diminuindo a altura do rosto para que conseguisse encarar Jessabelle no mesmo nível. Ela estava sentada na beirada da cama, com o colchão recheado de palha se remexendo de acordo com seus movimentos cheios de energia.

— Está se focando nas coisas erradas, menina. — Como futura sacerdotisa vermelha, Jessabelle deveria iniciar e se aprofundar nos estudos de religião o quanto antes. Por ser, no momento, a criança mais jovem sob os cuidados do templo, haviam lhe designado um horário à parte para que pudesse aprender um pouco mais sobre letras, números e deuses. A garota era alfabetizada por Vyrion e Sandna, uma sacerdotisa pentoshi já de muita idade e, consequentemente, portadora de muita sabedoria. Nessa tarde, o homem era o responsável por conversar com Jessabelle e relembrá-la sobre algumas características da religião que ambos cultuavam. — Algumas pessoas simplesmente nascem em famílias que não pregam o Senhor da Luz. A criança é ensinada desde cedo a cultuar deuses falsos, a proclamar mentiras. Como estou fazendo com você agora. A diferença é que nosso deus é o verdadeiro e único no mundo. — Vyrion proferiu a última frase lentamente, avaliando Jessabelle com os olhos para ter certeza de que ela entendera. —  Você sabe qual é o nosso papel, sacerdotes vermelhos?

— Queimar. — A resposta da garotinha foi imediata e pura, tão simples e certa como seria a resposta se a pergunta fosse "de que cor é o céu?". Vyrion assentiu com a cabeça devagar, respondendo com a mesma velocidade com a qual fazia o movimento positivo:

— Nós queimamos aqueles que se recusam a acreditar no verdadeiro e único deus. Mas, antes, precisamos abrir os olhos de quem está com eles fechados para a verdade, mostrando provas da existência do Senhor da Luz. Você pode me dar um exemplo de como fazer isso? — O homem recostou novamente as costas na cadeira, endireitando a coluna. Usava uma túnica vermelha semelhante a da menina, mas muitas medidas maior. O corpo musculoso era oculto pelo tecido de algodão carmesim, que ia desde as canelas até o pescoço.

Vissão no fogo. — Jessabelle olhou para um dos archotes presos à parede, ao lado na porta de madeira fechada que separava o quarto de dormir do restante do tempo vermelho. As chamas crepitavam e tremeluziam levemente, apesar de a janela do cômodo estar fechada e nenhuma corrente de ar passar pelo aposento.

— Sim, a visão nas chamas é uma prova de que o Senhor da Luz está conosco e nos ajuda a trilhar seu caminho. — Vyrion batucou os dedos na mesa de madeira, enquanto Jessabelle continuava a olhá-lo com os olhos que mais pareciam duas safiras brilhantes em seu rosto. Por fim, o sacerdote decidiu que a conversa com a garota trouxe bons resultados e era o suficiente, por enquanto. — Por hoje está bom. Continue assim e provará a R'hllor seu valor como sacerdotisa vermelha. — O homem se levantou do assento, fazendo com que a menina reproduzisse o movimento e se levantasse também. — Vamos falar sobre o alfabeto agora. Sente-se na cadeira, irei trazer alguns livros.

Treino: Religião





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