Templo de R'hllor
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Templo de R'hllor
Templo de R'hllor
O Templo de R'hllor é feito de pedras vermelhas. Tem uma grande torre quadrada com uma fogueira em um braseiro de ferro de seis metros de diâmetro localizada no topo da torre. Uma fogueira acompanha cada porta. É um dos maiores templos de Braavos, sendo construído pouco tempo depois da perdição de Valíria, quando a Cidade de Braavos se revelou ao mundo conhecido.
Senhora das Lanças
Re: Templo de R'hllor
Jessabelle
Can you feel the fire in these eyes? Keep me in your sight. FEAR THE FIRE, taking flight, running through the night. Keep me safe, I’m here till day’s end... Keeping fire. LET'S IGNITE under my neon skies.
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Uma brisa fria entrou sorrateiramente pela janela aberta, fazendo com que a chama da vela oscilasse. As sombras criadas pela luz se mexeram pelas paredes de todo o quarto, e em conjunto delas, Jessabelle se levantou da cadeira onde estava sentada e foi em direção à janela, fechando-a.
Voltou para sua cadeira em frente à escrivaninha, onde estavam repousados pergaminhos, livros e incontáveis páginas soltas. Empilhando todo o material em um único lado da mesa, Jessabelle escolheu aleatoriamente um livro de aparência velha e desgastada que havia ficado no topo da pilha. Sua capa era de uma cor escura, tendendo ao marrom e não havia título, mas a morena já sabia exatamente que encontraria ali.
Delicadamente, Jessabelle foi virando as páginas frágeis da obra. A tinta estava sutilmente apagada, o que a obrigou a forçar os olhos para ler seu conteúdo. O livro era um dos exemplares que um sacerdote mais velho deu para Jessabelle ler e afugentar sua fome de conhecimento em relação às religiões. A morena acreditava que, para ser uma boa sacerdotisa vermelha e trazer mais fiéis para a causa de seu deus, deveria primeiro entender as razões que levavam povos diferentes a crerem em deuses diferentes.
A pergunta que mais incomodava Jessabelle era a que questionava o fato de a Fé Vermelha ser tão pouco disseminada pelo continente de Westeros. Falta de conhecimento, talvez? Na visão da jovem, era realmente uma pena e um desperdício que os westerosi não conhecessem o seu Senhor da Luz, que traria força e poder para as nações que lhe servissem fielmente. Mas isso não deveria ser fonte de problemas ou inquietação, afinal, assim como outrora houveram sacerdotes vermelhos em Westeros pregando a palavra verdadeira, não havia empecilho impedindo que este mesmo episódio ocorresse novamente, nos dias atuais. E talvez, quem sabe, não será a própria Jessabelle a se aventurar pelo outro continente trazendo crentes para a Fé Vermelha?
Deixando os devaneios de lado, a jovem se pôs a estudar. O estudo religioso era algo no qual ela acreditava em demasia, pois muitas vezes o homem se torna aquilo no qual acredita. Controlar a natureza de alguém segundo a fé da pessoa era algo muito poderoso e valioso para ser descartado. Por essa razão, Jessabelle direcionou os olhos azulados para a tinta contida no fino papel e começou a ler.
"Boash" era o nome escrito no topo da página, o primeiro que havia chamado a atenção da jovem. Ela já ouvira sobre essa divindade, conhecida também como Deus Cego e que fora muito cultuada em Lorath e também pelo povo valiriano. Segundo os registros contidos no livro, aqueles que veneravam o Deus Cego não comiam carne, bebiam vinho e acreditavam que todas as criaturas do mundo eram dignas igualmente. Foi impossível para Jessabelle segurar a careta ao ler sobre os sacerdotes dessa religião: "seus sacerdotes são eunucos que usam capuzes sem olhos em honra do deus, pois só na escuridão seria permitindo-lhes ver as "verdades superiores" da criação que se ocultava por trás das ilusões do mundo material." Quando chegou na parte que descrevia a extrema abnegação que os boashinos tinham para consigo mesmos, Jessabelle decretou que, por ser uma crença praticamente extinta do mundo atual, não valia o tempo gasto para ser estudada.
Folheou as páginas até que o título do texto chegou em "Deus de Muitas Faces". Era uma divindade muito conhecida por parte de Jessabelle, já que um templo construído em homenagem ao deus se localizava em Braavos, e sua guilda de assassinos havia se originado ali. Jessabelle achava bizarro o modo como essas pessoas podiam crer que a morte era fim misericordioso para o sofrimento que a vida proporcionava. Pensou naqueles que se sentavam em tronos e possuíam bens valiosos, que custavam o triplo de seu peso em ouro. Para esses, certamente a morte não seria bem-vinda e muito menos vista como algo piedoso.
Cansada de refletir sobre as bobagens que terceiros tinham como verdades, Jessabelle fechou o livro e esfregou os olhos, vermelhos devido ao esforço de executar uma leitura com baixa luminosidade. Levantou-se e ajeitou a fina camisola que vestia, que era como uma cortina carmesim lhe cobrindo do peito aos pés. Os quartos de repouso destinados aos sacerdotes do templo vermelho eram aconchegantes para Jessabelle, que dormia em um desses desde que se conhecia por gente. Deitou-se na cama e se cobriu com uma manta fina, virando-se para encarar a vela que ardia sobre a mesa.
Jessabelle ainda estava acordada quando a chama chegou ao fim e se extinguiu, deixando a jovem imersa em pensamentos e escuridão.
Voltou para sua cadeira em frente à escrivaninha, onde estavam repousados pergaminhos, livros e incontáveis páginas soltas. Empilhando todo o material em um único lado da mesa, Jessabelle escolheu aleatoriamente um livro de aparência velha e desgastada que havia ficado no topo da pilha. Sua capa era de uma cor escura, tendendo ao marrom e não havia título, mas a morena já sabia exatamente que encontraria ali.
Delicadamente, Jessabelle foi virando as páginas frágeis da obra. A tinta estava sutilmente apagada, o que a obrigou a forçar os olhos para ler seu conteúdo. O livro era um dos exemplares que um sacerdote mais velho deu para Jessabelle ler e afugentar sua fome de conhecimento em relação às religiões. A morena acreditava que, para ser uma boa sacerdotisa vermelha e trazer mais fiéis para a causa de seu deus, deveria primeiro entender as razões que levavam povos diferentes a crerem em deuses diferentes.
A pergunta que mais incomodava Jessabelle era a que questionava o fato de a Fé Vermelha ser tão pouco disseminada pelo continente de Westeros. Falta de conhecimento, talvez? Na visão da jovem, era realmente uma pena e um desperdício que os westerosi não conhecessem o seu Senhor da Luz, que traria força e poder para as nações que lhe servissem fielmente. Mas isso não deveria ser fonte de problemas ou inquietação, afinal, assim como outrora houveram sacerdotes vermelhos em Westeros pregando a palavra verdadeira, não havia empecilho impedindo que este mesmo episódio ocorresse novamente, nos dias atuais. E talvez, quem sabe, não será a própria Jessabelle a se aventurar pelo outro continente trazendo crentes para a Fé Vermelha?
Deixando os devaneios de lado, a jovem se pôs a estudar. O estudo religioso era algo no qual ela acreditava em demasia, pois muitas vezes o homem se torna aquilo no qual acredita. Controlar a natureza de alguém segundo a fé da pessoa era algo muito poderoso e valioso para ser descartado. Por essa razão, Jessabelle direcionou os olhos azulados para a tinta contida no fino papel e começou a ler.
"Boash" era o nome escrito no topo da página, o primeiro que havia chamado a atenção da jovem. Ela já ouvira sobre essa divindade, conhecida também como Deus Cego e que fora muito cultuada em Lorath e também pelo povo valiriano. Segundo os registros contidos no livro, aqueles que veneravam o Deus Cego não comiam carne, bebiam vinho e acreditavam que todas as criaturas do mundo eram dignas igualmente. Foi impossível para Jessabelle segurar a careta ao ler sobre os sacerdotes dessa religião: "seus sacerdotes são eunucos que usam capuzes sem olhos em honra do deus, pois só na escuridão seria permitindo-lhes ver as "verdades superiores" da criação que se ocultava por trás das ilusões do mundo material." Quando chegou na parte que descrevia a extrema abnegação que os boashinos tinham para consigo mesmos, Jessabelle decretou que, por ser uma crença praticamente extinta do mundo atual, não valia o tempo gasto para ser estudada.
Folheou as páginas até que o título do texto chegou em "Deus de Muitas Faces". Era uma divindade muito conhecida por parte de Jessabelle, já que um templo construído em homenagem ao deus se localizava em Braavos, e sua guilda de assassinos havia se originado ali. Jessabelle achava bizarro o modo como essas pessoas podiam crer que a morte era fim misericordioso para o sofrimento que a vida proporcionava. Pensou naqueles que se sentavam em tronos e possuíam bens valiosos, que custavam o triplo de seu peso em ouro. Para esses, certamente a morte não seria bem-vinda e muito menos vista como algo piedoso.
Cansada de refletir sobre as bobagens que terceiros tinham como verdades, Jessabelle fechou o livro e esfregou os olhos, vermelhos devido ao esforço de executar uma leitura com baixa luminosidade. Levantou-se e ajeitou a fina camisola que vestia, que era como uma cortina carmesim lhe cobrindo do peito aos pés. Os quartos de repouso destinados aos sacerdotes do templo vermelho eram aconchegantes para Jessabelle, que dormia em um desses desde que se conhecia por gente. Deitou-se na cama e se cobriu com uma manta fina, virando-se para encarar a vela que ardia sobre a mesa.
Jessabelle ainda estava acordada quando a chama chegou ao fim e se extinguiu, deixando a jovem imersa em pensamentos e escuridão.
Treino: Religião
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Jessabelle de Ibben
Re: Templo de R'hllor
Jessabelle
Can you feel the fire in these eyes? Keep me in your sight. FEAR THE FIRE, taking flight, running through the night. Keep me safe, I’m here till day’s end... Keeping fire. LET'S IGNITE under my neon skies.
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INTERAÇÃO FLASHBACK - DOZE ANOS ATRÁS
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INTERAÇÃO FLASHBACK - DOZE ANOS ATRÁS
A garotinha tamborilava os dedos ansiosamente por sobre a superfície lisa de madeira da mesa. Havia acabado de testemunhar um dos cultos a R'hllor, que se resumia na queima de uma enorme fogueira e no entoar de cânticos religiosos, muitos dos quais ela já sabia de cor. O cheiro da fumaça e a cor da fuligem marcavam suas roupas e corpo até poucos minutos atrás, antes de ter se despido e tomado um pequeno banho com água morna, trazida por uma das sacerdotisas mais velhas que cuidavam da menina.
Jessabelle trajava uma camisola de seda vermelha muito confortável e que lhe cabia perfeitamente, apesar de não ter sido tecida especificamente para ela. O quarto em que estava possuía archotes ardendo com chamas que a garota havia aprendido a não temer; uma cama com um colchão recheado de palha; uma pequena mesa para estudos e a cadeira de madeira rústica na qual estava sentada. Era um ambiente deveras assustador para uma criança, considerando as sombras negras que contrastavam com o vermelho das paredes do cômodo - Jessabelle, entretanto, se sentia estranhamente confortável no aposento.
Já passava do horário que a menina diariamente dormia, mas naquela noite ela não conseguia pregar os olhos por sequer um instante. Mais agitada do que normalmente era, Jessabelle já havia experimentado todas as posições para pegar no sono e, tendo falhado na missão, também já havia vasculhado o quarto inteiro à procura de passatempos. Estava entediada e, como qualquer criança neste estado de espírito, curiosa para fazer aquilo em que lhe era imposto a proibição.
"Não saia do quarto após o horário de dormir", era o que sempre lhe diziam. Jessabelle estava quase, literalmente, se coçando de curiosidade para saber o que acontecia pelo templo de R'hllor quando todos se trancavam nos quartos - apesar de ter ouvido muitas vezes que o motivo da regra era o de que simplesmente ninguém queria ter de tomar conta de crianças durante a noite. Mas como saber se isso não era apenas uma desculpa para coisas mais interessantes que ocorriam no escuro? Refletindo sobre o assunto, a menina pulou da cadeira e, com um suspiro, tomou a coragem a necessária para destrancar a porta e a abrir, o mais lenta e silenciosamente que conseguiu.
Não havia ninguém no corredor, como o esperado, mas as chamas continuavam queimando em cada tocha pregada nas paredes. Apesar de permanecerem acesas durante dias e noites, Jessabelle nunca viu a madeira ser queimada completamente e acabar - pelo contrário, as tochas pareciam estar sempre exatamente iguais. Provavelmente, alguém trocava a lenha durante a noite ou pela madrugada.
Com um passo de cada vez, Jessabelle pôs o corpo para fora do quarto e recostou a porta no batente, que incrivelmente não emitiu rangidos. Descalça, seus pés eram cautelosos ao se movimentarem, enquanto os olhos profundamente azuis da garota vasculhavam o ambiente silencioso à procura de algo inusitado. Como nada encontrou ali, a menina foi em direção às escadas, subindo para a torre quadrada que guardava o braseiro de ferro que produzia as grandes fogueiras pelas quais o templo era tão famoso em Braavos.
O som de passos vagarosos se arrastando pelo chão fez com que o coração de Jessabelle desse um pulo e o sangue em seu corpo gelasse. Vozes austeras conversavam em idioma complicado e excêntrico, uma língua na qual a garota não conhecia. Ela reconheceu, entretanto, os donos dos timbres como sendo dois antigos sacerdotes do templo.
Jessabelle olhou ao seu redor. Poderia ir em frente e continuar subindo as escadas ou voltar pelo corredor por onde viera e se encontrar com os homens. Como as tochas estavam presentes por toda a extensão interna do templo, não havia a possibilidade de esconder nas sombras, pois essas eram escassas demais para servir ao propósito. A garotinha, olhando para a única porta de madeira presente no corredor, decidiu arriscar e tentar a sorte. Girou a maçaneta e a forçou o mais silenciosamente que conseguiu e, para sua tremenda surpresa e alívio, a porta se abriu com um pequeno grunhido de protesto.
Jessabelle entrou em um quarto semelhante ao seu, pela pontinha dos pés descalços, encostando a porta atrás de si e se virando para encarar o habitante do cômodo. Por sorte, era uma velha senhora que dormia profundamente, os roncos baixos acompanhando cada inspiração. O crepitar suave do fogo que ardia no archote do quarto era tranquilizador, até mesmo para Jessabelle naquela situação.
Ouviu quando a intensidade e volume das vozes passaram pela porta em direção às escadas que subiam pelo templo. Curiosa e intrigada, a pequena garota fechou um dos olhos e tascou o outro, arregalado, pela fresta da porta, observando os sacerdotes passarem pelo corredor sem notarem o brilho azulado do olhar que seguia seus movimentos.
Por um instante, Jessabelle ficou tentada a segui-los e ver o que planejavam fazer. Foi dissuadida da ideia quando percebeu que não estava sozinha no quarto. Os roncos pararam e deram lugar a tosses secas, fazendo com que a senhora se remexesse na cama. Jessabelle, que permanecia com as costas na porta e o rosto assustado olhando a cena, se abaixou e, rapidamente, engatinhou até o pé da cama. Conseguia ouvir a mulher se mexer e pegar algo repousado por sobre a mesa de madeira. Imóvel, a garotinha se encolheu o máximo que conseguiu, querendo que a parede atrás de si a absorvesse. Pelo seu pequeno tamanho e peso, não foi difícil se esconder naquele cantinho. Ela prendeu a respiração até o momento em que a senhora voltou para o que parecia ser um sono profundo, e os roncos recomeçaram a preencher o ambiente.
Após minutos que se pareceram com horas terem se passado, Jessabelle tomou coragem para sair dali. Seus músculos protestavam com os movimentos, visto a posição desconfortável em que a garota os submetera. Engatinhando novamente até a porta, a menina olhou pela fresta para ver se alguém estava à espreita pelos corredores, assim como ela. Como nada viu, abriu a porta o suficiente para que pudesse se espremer pela passagem e disparou pelo caminho até seu quarto, nem se dando o trabalho de olhar para trás. A única coisa em que pensava era que, se fosse pega, provavelmente seria ela a queimar na próxima fogueira que os sacerdotes fariam.
Chegou ao quarto ofegante e ainda mais agitada do que quando saiu. Trancou a porta e limpou os pés antes de se deitar, pensando que, da próxima vez, seria melhor pedir um livro para se entreter à noite.
Jessabelle trajava uma camisola de seda vermelha muito confortável e que lhe cabia perfeitamente, apesar de não ter sido tecida especificamente para ela. O quarto em que estava possuía archotes ardendo com chamas que a garota havia aprendido a não temer; uma cama com um colchão recheado de palha; uma pequena mesa para estudos e a cadeira de madeira rústica na qual estava sentada. Era um ambiente deveras assustador para uma criança, considerando as sombras negras que contrastavam com o vermelho das paredes do cômodo - Jessabelle, entretanto, se sentia estranhamente confortável no aposento.
Já passava do horário que a menina diariamente dormia, mas naquela noite ela não conseguia pregar os olhos por sequer um instante. Mais agitada do que normalmente era, Jessabelle já havia experimentado todas as posições para pegar no sono e, tendo falhado na missão, também já havia vasculhado o quarto inteiro à procura de passatempos. Estava entediada e, como qualquer criança neste estado de espírito, curiosa para fazer aquilo em que lhe era imposto a proibição.
"Não saia do quarto após o horário de dormir", era o que sempre lhe diziam. Jessabelle estava quase, literalmente, se coçando de curiosidade para saber o que acontecia pelo templo de R'hllor quando todos se trancavam nos quartos - apesar de ter ouvido muitas vezes que o motivo da regra era o de que simplesmente ninguém queria ter de tomar conta de crianças durante a noite. Mas como saber se isso não era apenas uma desculpa para coisas mais interessantes que ocorriam no escuro? Refletindo sobre o assunto, a menina pulou da cadeira e, com um suspiro, tomou a coragem a necessária para destrancar a porta e a abrir, o mais lenta e silenciosamente que conseguiu.
Não havia ninguém no corredor, como o esperado, mas as chamas continuavam queimando em cada tocha pregada nas paredes. Apesar de permanecerem acesas durante dias e noites, Jessabelle nunca viu a madeira ser queimada completamente e acabar - pelo contrário, as tochas pareciam estar sempre exatamente iguais. Provavelmente, alguém trocava a lenha durante a noite ou pela madrugada.
Com um passo de cada vez, Jessabelle pôs o corpo para fora do quarto e recostou a porta no batente, que incrivelmente não emitiu rangidos. Descalça, seus pés eram cautelosos ao se movimentarem, enquanto os olhos profundamente azuis da garota vasculhavam o ambiente silencioso à procura de algo inusitado. Como nada encontrou ali, a menina foi em direção às escadas, subindo para a torre quadrada que guardava o braseiro de ferro que produzia as grandes fogueiras pelas quais o templo era tão famoso em Braavos.
O som de passos vagarosos se arrastando pelo chão fez com que o coração de Jessabelle desse um pulo e o sangue em seu corpo gelasse. Vozes austeras conversavam em idioma complicado e excêntrico, uma língua na qual a garota não conhecia. Ela reconheceu, entretanto, os donos dos timbres como sendo dois antigos sacerdotes do templo.
Jessabelle olhou ao seu redor. Poderia ir em frente e continuar subindo as escadas ou voltar pelo corredor por onde viera e se encontrar com os homens. Como as tochas estavam presentes por toda a extensão interna do templo, não havia a possibilidade de esconder nas sombras, pois essas eram escassas demais para servir ao propósito. A garotinha, olhando para a única porta de madeira presente no corredor, decidiu arriscar e tentar a sorte. Girou a maçaneta e a forçou o mais silenciosamente que conseguiu e, para sua tremenda surpresa e alívio, a porta se abriu com um pequeno grunhido de protesto.
Jessabelle entrou em um quarto semelhante ao seu, pela pontinha dos pés descalços, encostando a porta atrás de si e se virando para encarar o habitante do cômodo. Por sorte, era uma velha senhora que dormia profundamente, os roncos baixos acompanhando cada inspiração. O crepitar suave do fogo que ardia no archote do quarto era tranquilizador, até mesmo para Jessabelle naquela situação.
Ouviu quando a intensidade e volume das vozes passaram pela porta em direção às escadas que subiam pelo templo. Curiosa e intrigada, a pequena garota fechou um dos olhos e tascou o outro, arregalado, pela fresta da porta, observando os sacerdotes passarem pelo corredor sem notarem o brilho azulado do olhar que seguia seus movimentos.
Por um instante, Jessabelle ficou tentada a segui-los e ver o que planejavam fazer. Foi dissuadida da ideia quando percebeu que não estava sozinha no quarto. Os roncos pararam e deram lugar a tosses secas, fazendo com que a senhora se remexesse na cama. Jessabelle, que permanecia com as costas na porta e o rosto assustado olhando a cena, se abaixou e, rapidamente, engatinhou até o pé da cama. Conseguia ouvir a mulher se mexer e pegar algo repousado por sobre a mesa de madeira. Imóvel, a garotinha se encolheu o máximo que conseguiu, querendo que a parede atrás de si a absorvesse. Pelo seu pequeno tamanho e peso, não foi difícil se esconder naquele cantinho. Ela prendeu a respiração até o momento em que a senhora voltou para o que parecia ser um sono profundo, e os roncos recomeçaram a preencher o ambiente.
Após minutos que se pareceram com horas terem se passado, Jessabelle tomou coragem para sair dali. Seus músculos protestavam com os movimentos, visto a posição desconfortável em que a garota os submetera. Engatinhando novamente até a porta, a menina olhou pela fresta para ver se alguém estava à espreita pelos corredores, assim como ela. Como nada viu, abriu a porta o suficiente para que pudesse se espremer pela passagem e disparou pelo caminho até seu quarto, nem se dando o trabalho de olhar para trás. A única coisa em que pensava era que, se fosse pega, provavelmente seria ela a queimar na próxima fogueira que os sacerdotes fariam.
Chegou ao quarto ofegante e ainda mais agitada do que quando saiu. Trancou a porta e limpou os pés antes de se deitar, pensando que, da próxima vez, seria melhor pedir um livro para se entreter à noite.
Treino: Furtividade
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Jessabelle de Ibben
Re: Templo de R'hllor
Jessabelle
Can you feel the fire in these eyes? Keep me in your sight. FEAR THE FIRE, taking flight, running through the night. Keep me safe, I’m here till day’s end... Keeping fire. LET'S IGNITE under my neon skies.
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INTERAÇÃO FLASHBACK - QUINZE ANOS ATRÁS
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INTERAÇÃO FLASHBACK - QUINZE ANOS ATRÁS
— Que é "deus"? — As pernas da garotinha iam sutilmente para frente e para trás na beirada da cama, semelhante ao balançar que uma mãe fazia para ninar seu bebê. Jessabelle tinha acabado de completar os quatro anos de idade e ainda estava desenvolvendo a habilidade da fala, acrescentando palavras novas em seu vocabulário todos os dias.
— "Deus" é a divindade dos homens. É um ser superior a todos nós em intelecto e espírito. — Vyrion era o alto-sacerdote que estava presente agora no templo. Era um homem alto e possuía uma vasta cabeleira negra tanto na cabeça quanto na barba, apesar de alguns fios prateados estarem começando a despontar em ambos os lugares. O sacerdote era nascido e crescido nos arredores de Porto Roxo, ali mesmo em Braavos, filho de pais mercadores ricos da cidade. — Todos os povos inventam e criam histórias com deuses falsos para cultuar. Mas existem apenas dois verdadeiros, Jessabelle. Quais são?
— R'hllor, o Senhor da Luix e Coração de Fogo. O outro é o Deus cujo nome não deve ser pronuciado, o deus da morte e do gelo. — A garota proferiu as palavras de modo automático, apenas repetindo aquilo que lhe fora ensinado desde que chegara ao templo vermelho. Jessabelle foi enviada pelos pais antes de ter completado os três anos de idade; seu pai, um pescador de Ibben, navegara com a filha para longe de casa, a fim de entregá-la nas mãos dos sacerdotes e doá-la para que seu deus fizesse da garota sua serva.
— Muito bem. Agora me diga, você sabe por que as pessoas insistem em acreditar em deuses de mentira? — Vyrion havia se sentado na única cadeira de madeira do cômodo. Era um aposento pequeno, com espaço apenas para uma cama, uma mesa e sua cadeira. Os estalidos de fogo crepitando nos archotes espalhados pelas paredes era o único barulho que se ouvia, além de alguns gritos ocasionais de pedestres da rua, no lado exterior do templo.
Jessabelle negou com a cabeça, piscando e encarando o alto-sacerdote com os olhos profundamente azuis, cheios de interesse. — Que é "insitem"?
Vyrion balançou negativamente a cabeça, copiando o gesto da criança. O homem apoiou os cotovelos nos joelhos, diminuindo a altura do rosto para que conseguisse encarar Jessabelle no mesmo nível. Ela estava sentada na beirada da cama, com o colchão recheado de palha se remexendo de acordo com seus movimentos cheios de energia.
— Está se focando nas coisas erradas, menina. — Como futura sacerdotisa vermelha, Jessabelle deveria iniciar e se aprofundar nos estudos de religião o quanto antes. Por ser, no momento, a criança mais jovem sob os cuidados do templo, haviam lhe designado um horário à parte para que pudesse aprender um pouco mais sobre letras, números e deuses. A garota era alfabetizada por Vyrion e Sandna, uma sacerdotisa pentoshi já de muita idade e, consequentemente, portadora de muita sabedoria. Nessa tarde, o homem era o responsável por conversar com Jessabelle e relembrá-la sobre algumas características da religião que ambos cultuavam. — Algumas pessoas simplesmente nascem em famílias que não pregam o Senhor da Luz. A criança é ensinada desde cedo a cultuar deuses falsos, a proclamar mentiras. Como estou fazendo com você agora. A diferença é que nosso deus é o verdadeiro e único no mundo. — Vyrion proferiu a última frase lentamente, avaliando Jessabelle com os olhos para ter certeza de que ela entendera. — Você sabe qual é o nosso papel, sacerdotes vermelhos?
— Queimar. — A resposta da garotinha foi imediata e pura, tão simples e certa como seria a resposta se a pergunta fosse "de que cor é o céu?". Vyrion assentiu com a cabeça devagar, respondendo com a mesma velocidade com a qual fazia o movimento positivo:
— Nós queimamos aqueles que se recusam a acreditar no verdadeiro e único deus. Mas, antes, precisamos abrir os olhos de quem está com eles fechados para a verdade, mostrando provas da existência do Senhor da Luz. Você pode me dar um exemplo de como fazer isso? — O homem recostou novamente as costas na cadeira, endireitando a coluna. Usava uma túnica vermelha semelhante a da menina, mas muitas medidas maior. O corpo musculoso era oculto pelo tecido de algodão carmesim, que ia desde as canelas até o pescoço.
— Vissão no fogo. — Jessabelle olhou para um dos archotes presos à parede, ao lado na porta de madeira fechada que separava o quarto de dormir do restante do tempo vermelho. As chamas crepitavam e tremeluziam levemente, apesar de a janela do cômodo estar fechada e nenhuma corrente de ar passar pelo aposento.
— Sim, a visão nas chamas é uma prova de que o Senhor da Luz está conosco e nos ajuda a trilhar seu caminho. — Vyrion batucou os dedos na mesa de madeira, enquanto Jessabelle continuava a olhá-lo com os olhos que mais pareciam duas safiras brilhantes em seu rosto. Por fim, o sacerdote decidiu que a conversa com a garota trouxe bons resultados e era o suficiente, por enquanto. — Por hoje está bom. Continue assim e provará a R'hllor seu valor como sacerdotisa vermelha. — O homem se levantou do assento, fazendo com que a menina reproduzisse o movimento e se levantasse também. — Vamos falar sobre o alfabeto agora. Sente-se na cadeira, irei trazer alguns livros.
— "Deus" é a divindade dos homens. É um ser superior a todos nós em intelecto e espírito. — Vyrion era o alto-sacerdote que estava presente agora no templo. Era um homem alto e possuía uma vasta cabeleira negra tanto na cabeça quanto na barba, apesar de alguns fios prateados estarem começando a despontar em ambos os lugares. O sacerdote era nascido e crescido nos arredores de Porto Roxo, ali mesmo em Braavos, filho de pais mercadores ricos da cidade. — Todos os povos inventam e criam histórias com deuses falsos para cultuar. Mas existem apenas dois verdadeiros, Jessabelle. Quais são?
— R'hllor, o Senhor da Luix e Coração de Fogo. O outro é o Deus cujo nome não deve ser pronuciado, o deus da morte e do gelo. — A garota proferiu as palavras de modo automático, apenas repetindo aquilo que lhe fora ensinado desde que chegara ao templo vermelho. Jessabelle foi enviada pelos pais antes de ter completado os três anos de idade; seu pai, um pescador de Ibben, navegara com a filha para longe de casa, a fim de entregá-la nas mãos dos sacerdotes e doá-la para que seu deus fizesse da garota sua serva.
— Muito bem. Agora me diga, você sabe por que as pessoas insistem em acreditar em deuses de mentira? — Vyrion havia se sentado na única cadeira de madeira do cômodo. Era um aposento pequeno, com espaço apenas para uma cama, uma mesa e sua cadeira. Os estalidos de fogo crepitando nos archotes espalhados pelas paredes era o único barulho que se ouvia, além de alguns gritos ocasionais de pedestres da rua, no lado exterior do templo.
Jessabelle negou com a cabeça, piscando e encarando o alto-sacerdote com os olhos profundamente azuis, cheios de interesse. — Que é "insitem"?
Vyrion balançou negativamente a cabeça, copiando o gesto da criança. O homem apoiou os cotovelos nos joelhos, diminuindo a altura do rosto para que conseguisse encarar Jessabelle no mesmo nível. Ela estava sentada na beirada da cama, com o colchão recheado de palha se remexendo de acordo com seus movimentos cheios de energia.
— Está se focando nas coisas erradas, menina. — Como futura sacerdotisa vermelha, Jessabelle deveria iniciar e se aprofundar nos estudos de religião o quanto antes. Por ser, no momento, a criança mais jovem sob os cuidados do templo, haviam lhe designado um horário à parte para que pudesse aprender um pouco mais sobre letras, números e deuses. A garota era alfabetizada por Vyrion e Sandna, uma sacerdotisa pentoshi já de muita idade e, consequentemente, portadora de muita sabedoria. Nessa tarde, o homem era o responsável por conversar com Jessabelle e relembrá-la sobre algumas características da religião que ambos cultuavam. — Algumas pessoas simplesmente nascem em famílias que não pregam o Senhor da Luz. A criança é ensinada desde cedo a cultuar deuses falsos, a proclamar mentiras. Como estou fazendo com você agora. A diferença é que nosso deus é o verdadeiro e único no mundo. — Vyrion proferiu a última frase lentamente, avaliando Jessabelle com os olhos para ter certeza de que ela entendera. — Você sabe qual é o nosso papel, sacerdotes vermelhos?
— Queimar. — A resposta da garotinha foi imediata e pura, tão simples e certa como seria a resposta se a pergunta fosse "de que cor é o céu?". Vyrion assentiu com a cabeça devagar, respondendo com a mesma velocidade com a qual fazia o movimento positivo:
— Nós queimamos aqueles que se recusam a acreditar no verdadeiro e único deus. Mas, antes, precisamos abrir os olhos de quem está com eles fechados para a verdade, mostrando provas da existência do Senhor da Luz. Você pode me dar um exemplo de como fazer isso? — O homem recostou novamente as costas na cadeira, endireitando a coluna. Usava uma túnica vermelha semelhante a da menina, mas muitas medidas maior. O corpo musculoso era oculto pelo tecido de algodão carmesim, que ia desde as canelas até o pescoço.
— Vissão no fogo. — Jessabelle olhou para um dos archotes presos à parede, ao lado na porta de madeira fechada que separava o quarto de dormir do restante do tempo vermelho. As chamas crepitavam e tremeluziam levemente, apesar de a janela do cômodo estar fechada e nenhuma corrente de ar passar pelo aposento.
— Sim, a visão nas chamas é uma prova de que o Senhor da Luz está conosco e nos ajuda a trilhar seu caminho. — Vyrion batucou os dedos na mesa de madeira, enquanto Jessabelle continuava a olhá-lo com os olhos que mais pareciam duas safiras brilhantes em seu rosto. Por fim, o sacerdote decidiu que a conversa com a garota trouxe bons resultados e era o suficiente, por enquanto. — Por hoje está bom. Continue assim e provará a R'hllor seu valor como sacerdotisa vermelha. — O homem se levantou do assento, fazendo com que a menina reproduzisse o movimento e se levantasse também. — Vamos falar sobre o alfabeto agora. Sente-se na cadeira, irei trazer alguns livros.
Treino: Religião
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Jessabelle de Ibben
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