Labirinto de Argella
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Labirinto de Argella
Labirinto de Argella
O Labirinto de Argella é um jardim de pedra criado antes da Guerra da Conquista e que sobrevive até os tempos atuais. Ganhou o nome em homenagem à filha de Argilac, O Último Rei da Tempestade. É um lugar de sossego e tranquilidade, onde pode se ouvir o canto de outros pássaros além das aves marinhas. Há uma árvore em seu centro, nomeada Chuva-de-Ouro, que floresce uma vez por ano, presenteando os olhos com lindas e perfumadas flores amarelas.
O Corvo
Re: Labirinto de Argella
Não havia um corpo. Isso alimentava a loucura de minha mãe, e me afundava em um poço ainda maior de tristeza. Bandeiras negras ornavam nossos portões, lágrimas banhavam nossas faces. Endric havia sido tão querido quanto meu pai, havia procurado ser um Lord justo, bondoso e firme, e havia alcançado esse propósito por alguns anos. Mas o destino era amargo, e o Senhor da Luz havia escolhido agir de maneira traiçoeira. O Bastardo, um de nossos principais navios de guerra, havia sucumbido frente as ondas. Diziam que havia afundado nas proximidades de Dorne, mas ninguém sabia precisar ao certo. Durante meses, expedições foram lideradas por mim e minha irmã mais nova, na vã tentativa de encontrar nosso irmão perdido em uma ilhota. Nada foi encontrado, nada além de destroços do Bastardo. Cobri meu rosto com as mãos quando nossos portões foram erguidos mais uma vez. Agora que a morte se tornara oficial, nobres de todos os cantos dos Sete Reinos chegavam para prestar suas homenagens e compartilhar de nosso luto. A maioria deles começam com suas especulações, citando uma névoa negra que pairava sobre nossa linhagem. Fato era que Endric não era o primeiro de nós a morrer no mar. Anos antes, na juventude de Robert Baratheon, Lord e Lady de minha casa foram engolidos pelas ondas da Baía dos Naufrágios. A temporada de infortúnios não acabou por ai. Com a ascensão de Robert ao Trono de Ferro, a situação se estabilizou, mas logo chegou sua hora de ser vítima. Em uma manobre ardilosa de sua mulher, foi ferido de morte por um javali. Seu irmão Renly sucumbiu pelos poderes de uma Sacerdotisa Vermelha a serviço de Stannis, uma manobra odiosa que levou à sua própria morte, pelas mãos da Espada Juramentada de Renly, Brienne de Tarth. Verdade era que os Baratheon não encontravam harmonia e paz, seja pela disputa do Trono, seja pela sobrevivência. Por muito tempo, a casa foi tido como extinta, até a legitimação de Gendry, bastardo de Robert Baratheon. Gendry havia tido uma vida feliz, mas o terror voltou a se abater sobre nós, com a morte precoce de seu neto. Endric era uma espécie rara de homem e líder, e eu temia não ser capaz de lhe fazer justiça. Em meio ao luto, cresciam os comentários sobre a sucessão, sobre o meu dever para com as Terras da Tempestade. Eu não queria pensar naquilo, queria ser envolta pela minha dor, sem obrigações ou preocupações. Mas isso parecia impossível. Encontrei refúgio no Labirinto de Argella Durrandon, minha ancestral distante, e alguém mais forte que eu. Me encostei em uma pedra maior, sentindo o vento seco contra meu rosto, longe dos olhares dos inúmeros convidados. Completara meus vinte anos poucos meses antes, ainda era solteira, o que era algo extremamente incomum. O que faria a seguir? Como daria o próximo passo? Seria tão fácil ignorar a criação que tive? Sempre preparada para ser uma boa esposa? Logo eu descobriria a resposta. Suspirei fundo e me mantive imóvel. Tinha medo de tornar tudo mais real ao sair dali. Porém, meu momento foi quebrado por passos pesados sobre a pedra, ergui meu rosto para identificar o recém-chegado, e fui surpreendida pela imagem do Senhor do Vale. Não nos víamos há muito tempo, cerca de cinco anos ou mais, e eu trabalhara muito tentando esquecer nosso último encontro. Diferente da menina que ele havia conhecido, mantive-me serena e um pouco curiosa, mas não me deixei ficar vermelha e perder o ar. Ele ainda era o mesmo, com um ar de maturidade a mais e com os olhos claros encantadores. A diferença fundamental era que o homem vestido de negro na minha frente era agora viúvo. A situação que nos afastara antes não existia mais, mas eu tampouco queria me dar esperanças, tampouco queria sonhar com uma felicidade vindoura, pois sabia que minha sorte não era generosa. O Senhor da Luz havia me tirado Artys uma vez, e agora o trazia aos meus olhos novamente. Não havia garantias de que aquilo fosse acabar bem. Suspirei pesadamente e o encarei com amabilidade. - Milorde. - Disse, em um sussurro quase inaudível. |
TREINO DE HISTÓRIA
Ella Baratheon Stark
Re: Labirinto de Argella
"I wanna see the bad man fly....." |
Flashback.
O negro combinava com Ponta Tempestade, mas de forma sombria. As honras daquela família ancestral estavam conectadas desde suas origens, com tragédia e pesar. Uma sucessão de altos e baixos, de vitórias e derrotas esmagadoras. Mais uma vez, eles enfrentavam o perigo do desconhecido. A incerteza sobre as gerações seguintes, sobre a continuidade daquela Casa que já fora a governante dos Sete Reinos. No interior de minha carruagem, bebi um gole de água, forçando a garganta a umedecer. Eu não via Endric há muitos anos, e doía pensar que nunca mais o veria de novo. Como Arthos, meu outro irmão também fora tirado de mim. Se existiam deuses, havia um motivo para que eu não acreditasse neles. Eram todos uns babacas. Um bando de desgraçados, se vangloriando na eternidade enquanto esmagam os mortais como besouros sob uma pedra. Eu temia por Ella. A irmã mais velha de Endric era agora a protetora das Terras da Tempestade, Lady de Ponta e líder dos Baratheon. Embora ela tivesse um parente masculino, de ramo menor, era ela quem envergava o direito de liderar seu povo, e precisaria garantir sua posição.
Meu coração apertou-se como uma criatura da noite sob a luz do sol, quando o portão ergueu-se e a passagem dos Cavaleiros do Vale foi autorizada. A comitiva ostentava homens em armaduras completas, e para cada estandarte do quarto lunar e da águia, havia uma bandeira negra em sinal de luto. O tamanho e o luxo da comitiva tinham o propósito de honrar Endric, razão pela qual nenhum investimento seria pouco. Cabisbaixo, olhei através da janela para o céu tempestuoso, imaginando onde aquele maldito navio devia ter afundado, e se meu amigo sofrera ao afogar. Para os nascidos do ferro, o que estava morto não podia morrer. Ele viveria para sempre nos salões do Deus Afogado. Na minha opinião, aquela era uma tola desculpa para os que viviam no mar, perecendo constantemente. Meu olhar cruzou com Nyria, e a lysena cruzou as pernas de maneira contida. Ela vestia um manto fluido de tecido negro, com algumas partes vaporosas e transparentes, à moda dornesa. Seu irmão, Aerion, vestia-se de negro, porém de forma mais contida. Ele usava uma versão de colete e calças semelhantes às de um nobre de baixo nascimento do Vale, embora os traços valirianos de ambos deixassem claras suas origens de Essos.
- Nyria, Aerion… Quando descermos, preciso que fiquem com o resto da comitiva. Para todos os efeitos, vocês são meus bardos e protegidos. Não podemos arriscar que nos tomem por amantes. Não aqui. Não nesta situação. Ella precisa de mim. - Expliquei, esfregando levemente os olhos, afastando o sono de uma viagem longa.
- Não se preocupe. Ficaremos com o restante da comitiva. - Garantiu Aerion, embora Nyria estivesse contrariada. - Ouvi dizer que a nova Lady Baratheon é bela o bastante para inspirar canções. Talvez nós façamos uma sobre ela. - Sorri para ele. Aerion sempre entendia os anseios do meu coração. Seria um prazer ouvir uma canção sobre ela.
- Não a cantaremos aqui, isto é certo. - Cortou-lhe Nyria, estalando a língua. - A morte exala deste lugar. Os poderes da Deusa de Lys não podem penetrar estas paredes escuras. Cantaremos sobre morte e renascimento, no banquete, se a família desejar. É mais adequado. Valar Morghulis.
- Valar Morghulis. - Repetiu Aerion, calando-se.
A carruagem já havia ficado para trás, quando finalmente alcancei os salões principais de Ponta Tempestade. Reclusa, Lady Baratheon recusava-se a ver qualquer pessoa. Agradeci ao Meistre e pedi que ele me mostrasse o caminho para meus aposentos. Certamente meus pertences já estariam à minha espera. Meus filhos haviam ficado para trás com a tia, no Ninho. Tendo apenas a mim para servir, meus servos teriam muito menos trabalho. Assim foi feito, e fui levado aos aposentos dos hóspedes, onde minhas vestes e objetos aguardavam. Sob a luz das velas, fui beber uma taça do vinho depositado à minha cabeceira. Foi quando uma batida leve à minha porta chamou minha atenção. Curioso, abri a tranca de ferro, puxando o portal para revelar Aerion, que aguardava de modo solene. Surpreso, abri a boca para orientar que ele fosse embora, mas o lyseno curvou-se em uma reverência, coisa que não fazia normalmente. A expressão de alguém que conhecia a servidão como ninguém apresentou-se, de repente o tornando um escravo novamente. Não gostei de vê-lo daquela forma, mas ficava feliz que ele soubesse jogar o jogo dos tronos.
- Meu senhor. Venho avisar-lhe de que Lady Ella foi vista retirando-se na direção do Labirinto de Argella. Acredito que seja este o nome que a serva das cozinhas utilizou. Não foi difícil conseguir informações, ela é uma criatura gentil. - Havia malícia nos olhos dele. Certamente, como um homem treinado pelas Casa dos Prazeres, Aerion saberia arrancar qualquer coisa de uma mulher. - Tenha uma boa noite. Espero que a informação seja proveitosa.
- Certamente será. Boa noite, Aerion. - Sorri, pela primeira vez feliz, em um bom tempo.
Quando alcancei o labirinto, havia trocado de roupas. O negro cobria meu corpo, um manto largo escorrendo aos meus pés, com couro tingido de preto e apenas um broche brilhante com o símbolo de minha Casa brilhando na fraca luz que refletia pelo local. Ela estava ainda mais bonita, e parecia diferente, de alguma forma. Ela parecia uma escultura viva, no centro do labirinto. Não era difícil encontrar o local, mas podia ser difícil sair. Eu apostava que Ella conhecia ele inteiro, e que o tinha gravado em sua mente. Ela estivera chorando, era fácil notar. Ainda assim, não parecia de forma alguma com a frágil menina que eu conhecera, e que me dissera tanto de seus sentimentos em nosso último encontro. Eu temia que ao vê-la, tudo aquilo que ficara esquecido retornasse, e miseravelmente concluí que tinha razão. Não poderia ser o mesmo, e agir com indiferença. Não na frente dela. Ella suspirou, e seu olhar inquisitivo tornou-se um amável sorriso. Sorri também, embora o gesto parecesse mais com um esgar de pesar, indeciso entre dor e felicidade.
- M’lady. Embora seja maravilhoso revê-la, eu preferia que não fosse assim. Ambos perdemos um irmão, e por isso lamento muito. - Confessei, permitindo que meus olhos ardessem com as lágrimas contidas. - Quando soube das expedições, permiti que meu coração conservasse a esperança de encontrá-lo. Eu deveria ter ido junto. Mas esta é apenas uma das coisas que não pude fazer, das quais me arrependerei para sempre... - Ela sabia a quê eu me referia. Aproximando-me lentamente, pisquei rapidamente para afastar as lágrimas, aproximando-me dela. Aquela mulher forte, devia ter a oportunidade de descansar. o peso do mundo devia pender sobre seus ombros. - Saiba que pode contar comigo e com minha família, Ella. Nós apoiaremos a memória de Endric, e seu governo… Eu… Eu realmente desejo que tudo tivesse sido diferente.
Mais sentimentos inconfessáveis. Agora que era viúvo pela terceira vez, acreditava que poderia finalmente pedir que Endric me concedesse Ella, e que viesse com ela até o Ninho da Águia, onde poderíamos selar nosso casamento. Eu considerara a proposta muitas vezes, enfernizando Aileen para que escrevesse de uma vez a carta. Minha proposta, como havia dito meu Meistre, estava no bico do corvo, quando soubemos do naufrágio. Agora Ella comandava uma Grande Casa. Nem eu, nem ela, poderíamos deixar nossos povos. Não sem nomear um regente. Não sem pôr em risco seu governo, tão fragilizado nos primeiros momentos. Ela não podia correr risco algum, agora. E eu não suportaria viver em Ponta, longe de meus filhos. Mais uma vez, nossos destinos estavam fadados à frustração. Mesmo sabendo de tudo isto, não pude controlar meus gestos. Avancei na direção dela, puxando-a pela cintura para um abraço forte. Queria que a dor a abandonasse, queria que Endric estivesse de volta, com suas risadas e sua habilidade única de beber canecos de cerveja num só gole. Queria ver o veado dos Baratheon brilhando sobre as ameias do castelo em suas cores reais, e não o dourado sobre o negro.
- Eu sinto muito, minha Ella… Sinto muito mesmo… - A consolei, sussurrando meu lamento em seu ouvido e mantendo-a unida a mim.
◦◦◦
Artys Arryn
Re: Labirinto de Argella
Myla Baratheon
Os passos de Myla ecoavam pelo ambiente conforme ela andava, com a sola das botas de couro impactando no chão. A moça acordara havia pouco tempo, saindo da parte coberta do castelo e enfrentando a luz cegante do sol em seus olhos - logo, manteve o olhar baixo enquanto caminhava para o jardim de Ponta Tempestade, nomeado Labirinto de Argella. Myla nunca deixava seus afazeres para depois, mas nos momentos em que podia descansar e dar passeios relaxantes ao ar livre, ela aproveitava a oportunidade.
A brisa marítima soprou sutilmente os cabelos soltos escuros da moça e impregnou suas narinas com o cheiro de costa do mar. A quantia de sal presente na maresia vinda foi o suficiente para causar uma leve ardência nos olhos da Baratheon, que piscou e resolveu ignorar a sensação. Com a luminosidade e o reflexo do Sol, os olhos de Myla adquiriam o tom verde amendoado que ela tanto gostava em si mesma. Vestia uma calça de algodão escura e uma blusa de linho branca e mangas compridas, que lhe caíam pelos braços folgadamente. Apesar de suas roupas normalmente não corresponderem ao seu título elevado na nobreza, a postura e os passos de Myla eram articulados do mesmo modo que os das pessoas nessa classe social - treinada desde criança a andar com o queixo erguido e as costas arqueadas, como uma dama, Myla não deixava a desejar nessa característica.
A caminho do jardim, a morena se deparou com um cavaleiro novo indo em direção aos estábulos. Não pôde deixar de notar o belo equino que o homem montava. Myla adorava animais quase tanto quanto os humanos - na verdade, ela preferia até mesmo passar o tempo com um animal quadrúpede do que com certas companhias bípedes.
— Bom dia, Sor. — Meneou a cabeça na direção do homem, em um gesto de cumprimento. O cavaleiro puxou as rédeas e parou ao seu lado, olhando para baixo ao encarar a moça. Ela não sabia quem ele era e também não iria se preocupar com isso - assuntos alheios não eram do seu interesse. Não notara nenhum brasão ou marca na armadura do sor, logo, só poderia ser um cavaleiro errante ou conhecido de sua família, nada de extrema importância. — Está um belo dia hoje, não concorda?
— Bom dia, milady. — Ele inclinou respeitosamente a cabeça na direção de Myla, a voz abafada devido ao uso do elmo. — Não mais que a senhorita, milady.
— Agradecida pela gentileza, Sor. — A Baratheon lhe abriu um pequeno sorriso. Se lembrando do objetivo inicial do dia, gesticulou com um breve sinal para a direção do Labirinto de Argella, de onde o cavaleiro parecia ter vindo. — Bom, se me permite, irei dar uma caminhada... Com sua licença.
Continuou o percurso para o jardim, observando a paisagem e o céu decorado pelo voo matinal dos pássaros. A brisa marítima continuava a soprar os fios escuros de seu cabelo para trás, causando-lhe cócegas nas laterais do pescoço. Myla invadiu o perímetro do jardim de pedra, caminhando com passos preguiçosos enquanto se deleitava com a visão de belíssimas flores rasteiras e com o cântico dos passarinhos que repousavam ali por perto. Céus, como amava Ponta Tempestade! Era seu lar desde que se entendia por gente. A morena passara todos os momentos - felizes ou tristes - de sua vida naquele castelo e em suas redondezas, pelo menos até aquele momento. Não se imaginava vivendo em outro lugar que não pertencesse às Terras da Tempestade, embora soubesse que essa era uma possibilidade bem presente em seu futuro próximo.
Chegando ao centro do jardim, porém, Myla se deparou com uma companhia inesperada: sua irmã caçula, Nikola. Era a primeira vez que a via no dia, já que não tinham se encontrado durante o café da manhã.
— Irmã. — Cumprimentou-a com um sorriso e uma pequena mesura, imitando os movimentos no ar como se puxasse as dobras de um vestido imaginário e dobrando o joelho, assim como havia aprendido muitos anos atrás. — Aproveitando a luminosidade com a qual o Senhor da Luz resolveu nos agraciar esta manhã? — A morena se dirigiu para a árvore central do jardim, recostando-se no tronco e cruzando os braços por sobre o peito. A sombra da qual estava usufruindo era fruto dos cachos de flores amareladas que nasceram da grande planta. Olhando para cima, a Baratheon se sentiu em um mundo novo, em uma galáxia onde as estrelas eram compostas por flores douradas. — Um pouco de céu aberto sempre é bom, mesmo nas terras mais tempestuosas dos Sete Reinos.
Ao contrário de Myla, Nikola vestia-se como uma perfeita donzela, o vestido amarelo combinando com as flores desabrochadas da Chuva-de-Ouro. Olhando com atenção, porém, a irmã mais velha percebeu terra e sujeira no tecido das vestes da menor, se concentrando na parte da frente do vestido.
— Nikola, querida, se agachou para procurar um brinco no chão?
A brisa marítima soprou sutilmente os cabelos soltos escuros da moça e impregnou suas narinas com o cheiro de costa do mar. A quantia de sal presente na maresia vinda foi o suficiente para causar uma leve ardência nos olhos da Baratheon, que piscou e resolveu ignorar a sensação. Com a luminosidade e o reflexo do Sol, os olhos de Myla adquiriam o tom verde amendoado que ela tanto gostava em si mesma. Vestia uma calça de algodão escura e uma blusa de linho branca e mangas compridas, que lhe caíam pelos braços folgadamente. Apesar de suas roupas normalmente não corresponderem ao seu título elevado na nobreza, a postura e os passos de Myla eram articulados do mesmo modo que os das pessoas nessa classe social - treinada desde criança a andar com o queixo erguido e as costas arqueadas, como uma dama, Myla não deixava a desejar nessa característica.
A caminho do jardim, a morena se deparou com um cavaleiro novo indo em direção aos estábulos. Não pôde deixar de notar o belo equino que o homem montava. Myla adorava animais quase tanto quanto os humanos - na verdade, ela preferia até mesmo passar o tempo com um animal quadrúpede do que com certas companhias bípedes.
— Bom dia, Sor. — Meneou a cabeça na direção do homem, em um gesto de cumprimento. O cavaleiro puxou as rédeas e parou ao seu lado, olhando para baixo ao encarar a moça. Ela não sabia quem ele era e também não iria se preocupar com isso - assuntos alheios não eram do seu interesse. Não notara nenhum brasão ou marca na armadura do sor, logo, só poderia ser um cavaleiro errante ou conhecido de sua família, nada de extrema importância. — Está um belo dia hoje, não concorda?
— Bom dia, milady. — Ele inclinou respeitosamente a cabeça na direção de Myla, a voz abafada devido ao uso do elmo. — Não mais que a senhorita, milady.
— Agradecida pela gentileza, Sor. — A Baratheon lhe abriu um pequeno sorriso. Se lembrando do objetivo inicial do dia, gesticulou com um breve sinal para a direção do Labirinto de Argella, de onde o cavaleiro parecia ter vindo. — Bom, se me permite, irei dar uma caminhada... Com sua licença.
Continuou o percurso para o jardim, observando a paisagem e o céu decorado pelo voo matinal dos pássaros. A brisa marítima continuava a soprar os fios escuros de seu cabelo para trás, causando-lhe cócegas nas laterais do pescoço. Myla invadiu o perímetro do jardim de pedra, caminhando com passos preguiçosos enquanto se deleitava com a visão de belíssimas flores rasteiras e com o cântico dos passarinhos que repousavam ali por perto. Céus, como amava Ponta Tempestade! Era seu lar desde que se entendia por gente. A morena passara todos os momentos - felizes ou tristes - de sua vida naquele castelo e em suas redondezas, pelo menos até aquele momento. Não se imaginava vivendo em outro lugar que não pertencesse às Terras da Tempestade, embora soubesse que essa era uma possibilidade bem presente em seu futuro próximo.
Chegando ao centro do jardim, porém, Myla se deparou com uma companhia inesperada: sua irmã caçula, Nikola. Era a primeira vez que a via no dia, já que não tinham se encontrado durante o café da manhã.
— Irmã. — Cumprimentou-a com um sorriso e uma pequena mesura, imitando os movimentos no ar como se puxasse as dobras de um vestido imaginário e dobrando o joelho, assim como havia aprendido muitos anos atrás. — Aproveitando a luminosidade com a qual o Senhor da Luz resolveu nos agraciar esta manhã? — A morena se dirigiu para a árvore central do jardim, recostando-se no tronco e cruzando os braços por sobre o peito. A sombra da qual estava usufruindo era fruto dos cachos de flores amareladas que nasceram da grande planta. Olhando para cima, a Baratheon se sentiu em um mundo novo, em uma galáxia onde as estrelas eram compostas por flores douradas. — Um pouco de céu aberto sempre é bom, mesmo nas terras mais tempestuosas dos Sete Reinos.
Ao contrário de Myla, Nikola vestia-se como uma perfeita donzela, o vestido amarelo combinando com as flores desabrochadas da Chuva-de-Ouro. Olhando com atenção, porém, a irmã mais velha percebeu terra e sujeira no tecido das vestes da menor, se concentrando na parte da frente do vestido.
— Nikola, querida, se agachou para procurar um brinco no chão?
Treino: Etiqueta
Última edição por Myla Baratheon em Qui Jul 13, 2017 10:44 pm, editado 3 vez(es)
Myla Baratheon
Re: Labirinto de Argella
Myla Baratheon
Nikola parecera ligeiramente surpresa com o surgimento de sua irmã mais velha no jardim - Myla só desejava que fosse o tipo bom de surpresa. Ela valorizava seu bom relacionamento para com as irmãs - apesar de não ser a amiga mais íntima de nenhuma delas, não havia rixa alguma entre a morena e sua família.
Nikola fez a mesura digna de uma nobre, com a delicadeza e elegância pelas quais fora ensinada por sua mãe a sempre apresentar na companhia de terceiros. Lady Joana havia sido uma mãe muito carinhosa com todos os filhos, sem distingui-los por motivos fúteis como sexo e idade - como Myla sabia que muitas mulheres nobres em Westeros faziam.
A jovem recordou-se das histórias sobre os Lannister de Rochedo Casterly, vivos e presentes na Guerra dos Cinco Reis, há um século. Pelo que lera nos livros da biblioteca de Ponta Tempestade, os Lannister lideravam o topo da lista das Casas mais ricas dos Sete Reinos, com suas minas consideradas infinitas jorrando ouro e prata para o bolso dos leões. A má administração do dinheiro e o acúmulo de empréstimos não pagos ao Banco de Ferro, porém, havia quebrado boa parte da economia da Casa, transformando o bordão "Um Lannister sempre paga suas dívidas" em uma anedota.
Todo Baratheon vivo nos últimos cem anos sabia também que a morte do rei Robert I Baratheon havia sido o estopim para o início da guerra que se sucedia. Três homens, autoproclamados Senhores do Trono de Ferro, marcharam para as terras da coroa, em direção a Porto Real - levaram consigo também um exército cada e devastaram as terras e casas por onde passaram. Robb Stark e Balon Greyjoy se declararam reis de seus territórios - Norte e Ilhas de Ferro, respectivamente -, ambos querendo libertação da suserania da Coroa. Myla pensou em como os boatos acerca da incerteza da paternidade de Robert para com Joffrey Baratheon atiçaram o povo e colocaram muitos do lado de Stannis Baratheon, autodeclarado rei por direito.
Myla nunca aprovara o modo como a família era abordada tão superficialmente por ambições egoístas. "O seu lugar no mundo é definido assim que a semente de seu pai é plantada na barriga de sua mãe", uma vez Myla ouvira seu pai dizer ao irmão, Endric. Era, inegavelmente, uma verdade: nos Sete Reinos, tudo o que parecia importar era o sobrenome e o órgão reprodutor entre as pernas de cada um.
Um exemplo de família conhecida por distinguir os filhos pelas características físicas era, justamente, a Casa Lannister. Mesmo após tantos anos, os apelidos maldosos destinados ao filho mais novo de Tywin Lannister, Tyrion, eram conhecidos e lembrados pelos livros de história que o mencionavam: monstro, duende, aberração. Era, para Myla, lastimável que um homem com notável capacidade de intelecto tivesse sofrido tanto repúdio devido à sua aparência - sendo que muito dessa aversão fora incitada pelos próprios membros da família Lannister.
— Sim, creio que devemos desfrutar dos dias ensolarados quando R'hllor nos presenteia com eles. É maravilhoso sentir o sol aquecendo nossa face, você não concorda? — Nikola levantou o rosto em direção ao céu aberto, se deleitando com o calor sutil que os raios solares traziam consigo. Apesar de, no momento, estar coberta pelas sombras das folhas da Chuva-de-Ouro, Myla sabia muito bem sobre o que a irmã mais nova falava. A sensação da quentura do sol em sua pele lhe causava tranquilidade - mesmo que batalhas estivessem sendo travadas na terra, era reconfortante saber que, no céu, as nuvens estavam em trégua e tudo permanecia calmo como num conto de fadas.
Myla abriu-lhe um sorriso fraterno e assentiu com a cabeça, concordando em relação a magnitude de tomar um pouco de sol, nos momentos em que ele aparecia por aquelas terras. A brisa marítima novamente veio, soprando alguns fios soltos do cabelo escuro da jovem para seu rosto, retirando-os do esconderijo de trás da orelha. Myla insistiu em devolvê-los para lá, desencostando do tronco da árvore e esticando os braços para cima, espreguiçando-se preguiçosamente como um felino que acaba de acordar de sua soneca. Ela tinha plena consciência de que o gesto não era exatamente um modelo de boas maneiras, mas acreditava que não precisaria agir de modo impecável aos olhos de sua companhia atual.
— Oh, não, eu estava admirando a natureza existente neste belo jardim. E você, irmã, está usufruindo desta bela manhã de sol tanto quanto eu? Pude perceber que estava iniciando uma caminhada pelo jardim.
— Sim, sim. Acredito que todos estejamos igualmente encantados com a aparição de nossa brilhante estrela hoje. — Myla saiu da sombra fria na qual estava abrigada, revelando-se novamente ao sol e colocando-se frente a irmã. — Iniciei, e devo portanto terminá-la. Espero que o seu passeio seja tão prazeroso quanto o meu está aparentando ser. Vejo-a no almoço, creio eu. Com sua licença, Nik. — Myla fez uma pequena mesura e continuou seu caminho, indo para o lado oposto do qual ficava a entrada do belíssimo jardim de pedra.
Nikola fez a mesura digna de uma nobre, com a delicadeza e elegância pelas quais fora ensinada por sua mãe a sempre apresentar na companhia de terceiros. Lady Joana havia sido uma mãe muito carinhosa com todos os filhos, sem distingui-los por motivos fúteis como sexo e idade - como Myla sabia que muitas mulheres nobres em Westeros faziam.
A jovem recordou-se das histórias sobre os Lannister de Rochedo Casterly, vivos e presentes na Guerra dos Cinco Reis, há um século. Pelo que lera nos livros da biblioteca de Ponta Tempestade, os Lannister lideravam o topo da lista das Casas mais ricas dos Sete Reinos, com suas minas consideradas infinitas jorrando ouro e prata para o bolso dos leões. A má administração do dinheiro e o acúmulo de empréstimos não pagos ao Banco de Ferro, porém, havia quebrado boa parte da economia da Casa, transformando o bordão "Um Lannister sempre paga suas dívidas" em uma anedota.
Todo Baratheon vivo nos últimos cem anos sabia também que a morte do rei Robert I Baratheon havia sido o estopim para o início da guerra que se sucedia. Três homens, autoproclamados Senhores do Trono de Ferro, marcharam para as terras da coroa, em direção a Porto Real - levaram consigo também um exército cada e devastaram as terras e casas por onde passaram. Robb Stark e Balon Greyjoy se declararam reis de seus territórios - Norte e Ilhas de Ferro, respectivamente -, ambos querendo libertação da suserania da Coroa. Myla pensou em como os boatos acerca da incerteza da paternidade de Robert para com Joffrey Baratheon atiçaram o povo e colocaram muitos do lado de Stannis Baratheon, autodeclarado rei por direito.
Myla nunca aprovara o modo como a família era abordada tão superficialmente por ambições egoístas. "O seu lugar no mundo é definido assim que a semente de seu pai é plantada na barriga de sua mãe", uma vez Myla ouvira seu pai dizer ao irmão, Endric. Era, inegavelmente, uma verdade: nos Sete Reinos, tudo o que parecia importar era o sobrenome e o órgão reprodutor entre as pernas de cada um.
Um exemplo de família conhecida por distinguir os filhos pelas características físicas era, justamente, a Casa Lannister. Mesmo após tantos anos, os apelidos maldosos destinados ao filho mais novo de Tywin Lannister, Tyrion, eram conhecidos e lembrados pelos livros de história que o mencionavam: monstro, duende, aberração. Era, para Myla, lastimável que um homem com notável capacidade de intelecto tivesse sofrido tanto repúdio devido à sua aparência - sendo que muito dessa aversão fora incitada pelos próprios membros da família Lannister.
— Sim, creio que devemos desfrutar dos dias ensolarados quando R'hllor nos presenteia com eles. É maravilhoso sentir o sol aquecendo nossa face, você não concorda? — Nikola levantou o rosto em direção ao céu aberto, se deleitando com o calor sutil que os raios solares traziam consigo. Apesar de, no momento, estar coberta pelas sombras das folhas da Chuva-de-Ouro, Myla sabia muito bem sobre o que a irmã mais nova falava. A sensação da quentura do sol em sua pele lhe causava tranquilidade - mesmo que batalhas estivessem sendo travadas na terra, era reconfortante saber que, no céu, as nuvens estavam em trégua e tudo permanecia calmo como num conto de fadas.
Myla abriu-lhe um sorriso fraterno e assentiu com a cabeça, concordando em relação a magnitude de tomar um pouco de sol, nos momentos em que ele aparecia por aquelas terras. A brisa marítima novamente veio, soprando alguns fios soltos do cabelo escuro da jovem para seu rosto, retirando-os do esconderijo de trás da orelha. Myla insistiu em devolvê-los para lá, desencostando do tronco da árvore e esticando os braços para cima, espreguiçando-se preguiçosamente como um felino que acaba de acordar de sua soneca. Ela tinha plena consciência de que o gesto não era exatamente um modelo de boas maneiras, mas acreditava que não precisaria agir de modo impecável aos olhos de sua companhia atual.
— Oh, não, eu estava admirando a natureza existente neste belo jardim. E você, irmã, está usufruindo desta bela manhã de sol tanto quanto eu? Pude perceber que estava iniciando uma caminhada pelo jardim.
— Sim, sim. Acredito que todos estejamos igualmente encantados com a aparição de nossa brilhante estrela hoje. — Myla saiu da sombra fria na qual estava abrigada, revelando-se novamente ao sol e colocando-se frente a irmã. — Iniciei, e devo portanto terminá-la. Espero que o seu passeio seja tão prazeroso quanto o meu está aparentando ser. Vejo-a no almoço, creio eu. Com sua licença, Nik. — Myla fez uma pequena mesura e continuou seu caminho, indo para o lado oposto do qual ficava a entrada do belíssimo jardim de pedra.
Treino: História
Myla Baratheon
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