Palácio de Yin

Não eram poucas as vezes que Siran se pegava pensando como exatamente havia chego ali, naquela situação e naquele local. Era consideravelmente longe de casa, e ela queria dizer de suas ambas as casas, tanto em Westeros, o lugar que vivera parte de sua vida por conta de sua mãe, quanto em Essos, onde vivera a grande maioria. YiTi era longe de tudo o que ela conhecia, e diferente também, e mesmo assim lá estava ela, pacientemente ouvindo os apelos do príncipe sobre a demora de seu ovo de dragão a se chocar.

Um ovo de dragão. Nem mesmo ela, que crescera em meio a tantos luxos, pensava que um dia teria a honra de vislumbrar um daqueles, tão poeticamente belo. Quantas pessoas no mundo todo teriam a chance de ver o mesmo, assim de tão perto? Aquilo a fazia refletir sobre o quanto nunca se arrependeria de ter feito tudo o que havia feito para chegar ali, desde os meses incontáveis naqueles navios fedorentos, navegando de lá para cá e de cá para lá, quanto as cavalgadas dia e noite. Ela era uma exploradora nata, entediava-se facilmente de ficar por muito tempo em um único lugar, e provavelmente partiria dali algum dia qualquer, sem que ninguém soubesse ou suspeitasse, na calada da noite.

- Ele precisa de tempo. - dizia ao príncipe, com todo o respeito que poderia carregar na voz. Armin era facilmente irritável quando não o tratavam da maneira que ele queria ser tratado, e Siran havia aprendido aquilo da pior maneira o possível. - Deve demorar a nascer porque será maior do que os outros. Tenha paciência. - havia tirado a informação de sua própria cabeça, mas fazia algum sentido, ao menos para ela. - Já pensou em como irá nomeá-lo? Ele definitivamente precisará de um nome... - um nome ameaçador, sim,  para colocar medo em qualquer inimigo que se posse a caminho, antes mesmo de abrir as asas.  

A jovem pentoshi tentava entender no que exatamente seu príncipe deveria estar pensando. Tinha medo de dizer algo que o acabasse aborrecendo, vendo que Armin constantemente parecia facilmente aborrecível, poderia dizer por experiência própria. E por mais que não conseguisse dizer ao certo, sua expressão no momento não parecia algo que Siran já houvesse visto antes. Quando ele se aproximava, tinha a certeza de que ele apenas a rodearia e voltaria a tagarelar sobre a demora, mas seu ato seguinte a surpreendia. Sentia os braços dele a envolvendo, e sua voz suave a segredando no ouvido de forma que fazia seu corpo pesar como se pudesse cair a qualquer momento.

- Que tal o seu? Afinal, se pensar bem, você sempre esteve do meu lado e como esse Dragão, espero eu que não seja diferente.

De tudo o que poderia dizer ou fazer naquele momento, a garota só era capaz de sorrir de forma tímida e virar parcialmente o rosto para vê-lo.

- O meu, príncipe? Siran. Um dragão chamado Siran... - refletia silenciosamente por poucos segundos. O crepitar das chamas das velas parecia mais alto. - Por mais que ache algo nobre e me sinta honrada, não tenho certeza de que isso soará muito intimidador. Um dragão com nome de garota. - se ela tivesse um dragão... O daria um nome que faria todos tremerem apenas por ouvi-lo, como o de Balerion, o Terror Negro.

Se um dragão tivesse seu nome, qual título o dariam? E embora falasse com nervosismo, o príncipe Armin apenas parecia ignorá-la, focado em seu propósito inicial, que provavelmente era testar, tanto a ela quanto a si próprio. Suas palavras seguintes eram quase tão doces quanto sua voz, e por mais que jamais fosse admitir, a tocavam de algum modo. Oras, ele tinha seu charme. Não parecia-se muito com os rapazes que Siran se envolvera anteriormente, por mais que estes fossem poucos e nenhum deles se tornara nada acima do comum. Armin era diferente, seu porte era diferente, ele falava e se vestia de um jeito diferente, diferente e encantador. Subitamente, ela percebia o motivo pelo qual ficara em Yi Ti mais do que ficara em qualquer outro lugar que havia passado durante todas as suas viagens.

E mesmo que pensamentos "errados" rondassem por sua cabeça como moscas, ela se atrevia a negar, mas em nenhum momento se afastava dele,apenas segurando seus braços com os dedos finos, parte como se quisesse tirá-lo dali, e parte como se quisesse mantê-lo.

- Eu nunca imaginei que você pensasse algo assim sobre mim. - fechava os olhos por um segundo. - Isso pode te prejudicar, e eu acima de todos jamais gostaria de vê-lo prejudicado de alguma forma. Se são estes os sentimentos que exerço sobre você, penso se não devo ir embora, antes que você se descontrole. Antes que nós nos descontrolemos. - Siran suspirava, e sem muitos receios, deitava a cabeça sobre o ombro do maior. - Mas eu não quero ter que ir embora.