Jardim Sul.

A herdeira mais velha de Lord Tyrell era um presente para as vistas, assim como o restante da família. Em Maelle porém, a beleza parecia cumprir um papel malicioso, que inebriava e roubava as decisões mais sábias. Naquela manhã, enquanto serpenteava pelos corredores do pai em um lindo vestido dourado, cuja abertura deixava suas costas nuas e calda caía como uma cascata de flores, ela mais parecia a visão de um anjo. Mas ai daquele que se deixasse levar por tal visão. Não estava em seu melhor humor, havia acordado com o pé esquerdo e lutava para manter-se serena.

Normalmente aquilo era uma tarefa simples. Se irritava com muitas coisas, mas tinha jogo de cintura o suficiente para que ninguém percebesse. Havia dominado a manobra pela necessidade de portar-se bem diante do pai, e pela necessidade de não discutir com a irmã mais nova na frente dos criados. Logo aquelas preocupações seriam superadas. Seu pai negociaria seu enlace com um Lord ou seu herdeiro, e as únicas leis em seu castelo seriam as suas. Sabia porém, que sentiria muita falta das paredes de Jardim de Cima.

Paredes belas e misteriosas, que guardavam sussurros e segredos inimagináveis, e que naquela manhã conheceriam mais um deles. Com seus cabelos loiros preciosos flutuando em cachos a cada curva no corredor, a pequena Lady Maelle tomou a direção da cozinha, passando sem ser notada e alcançando o Jardim Sul. Embora muito belo, aquele jardim estava longe de ser o mais precioso de Jardim de Cima. Era pouco frequentado pelos senhores da Casa Tyrell, e Maelle tinha a sensação de que era a única de sua geração a valer-se dele com constância.

Mal havia chegado e pôde ouvir os passos de Sor Rowan. Nash Rowan era o herdeiro de Bosquedouro e uma das espadas mais hábeis do exército Tyrell. Maelle o conhecera no baile promovido pelo décimo quinto dia de seu nome, e era certo que havia gostado do que vira. O cavaleiro não trajava armadura e portava apenas uma espada curta. Parecia confortável, embora seus olhos varressem o lugar com atenção. A jovem Tyrell abriu um sorriso genuíno com a aproximação do cavaleiro. - Fico feliz que tenha atendido meu chamado, Sor Rowan. - Disse ela, cuja voz mais parecia veludo.

- Sabe que não sei dizer não à sua imprudência, Milady. - Respondeu o homem, que uma vez ciente de que estavam sozinhos, enterrou os dedos nas longas madeixas da donzela e deixou que sua outra mão caminhasse por suas costas nuas, enquanto a atraia um beijo profundo e guiava os dois para um ponto cego entre os arbustos.A pele suavemente bronzeada do cavaleiro entrava em contraste com a palidez da jovem, que suspirou demoradamente, enrolando-se em volta dele como uma cerca-viva.

Embora se conservasse pura para o marido, a jovem Tyrell gostava da companhia masculina, e encontrara em Sor Rowan uma distração mais que bem-vinda. O homem tinha mãos hábeis, que despertavam em Maelle algo avassalador. Mas tais deslizes tinham um tempo certo, e logo se separaram. Rowan seguiu seu caminho em direção aos estábulos, onde seu escudeiro o esperava. A jovem ajeitou suas vestes e cabelos, e voltou a caminhar tranquilamente pelo jardim, sentindo o sol da campina sobre sua pele sensível.